quarta-feira


Não, não quero que te faças nua, assim, deixando cair as roupas sem vagar, não, não te quero assim, pronta, dada. Deixa-me ter tempo, deixa-me percorrer todas as estradas que conheço do teu corpo, para aprendê-las outra vez, deixa-me seguir atalhos, deixa-me sentir a ondulação das marés que transportam o teu prazer, deixa-me ver o Inverno partir, e a Primavera, morna e quieta, fazer desabrochar o teu ventre, levar flores aos teus olhos, sussuros de brisas frescas de fim de tarde, sim, quero ouvir as cascatas de gemidos que deslizam pela planice, sentir a humidade que o sol do primeiro arrepio deixa na palma de mão...

Não, espera, deixa que o calor do Verão, escondido nas caricias que te dou, te faça suar, arquejar, deixa que os meus beijos te moldem os contornos, os redondos e os angulos, na forja dos lençois de cambraia, abandona-te ao vento quente, vindo do oriente, que te beija o pescoço, deixa que te tenha assim, sem pressa, suspensa na agonia da antecipação, quero ver as flores tombarem, quero ver o Outono, colher os frutos maduros, suculentos, quero esperar pela vindima do vinho do teu ser, quero-te assim, à espera...

Um comentário:

Manuel Veiga disse...

a arte de bem saborear o tempo...
texto de uma sensualidade fremente e delicada...

abraços